quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sam Zell aposta no Brasil


Dançando sobre túmulos | 31.05.2007

Sam Zell, o megainvestidor americano, fez fortuna apostando em setores que a maioria dos empresários desprezava. Agora está de olho nos imóveis brasileiros

Landov Sam Zell: dono de 200 000 apartamentos nos Estados UnidosPublicidadePor Giuliana NapolitanoEXAME
O bilionário americano Sam Zell, de 65 anos, reuniu oito amigos e fez uma viagem pelo Brasil no fim do ano passado. Os integrantes do grupo, devidamente equipados com roupas de couro, capacetes e óculos, saíram com suas motos de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, passaram por Paraty e Petrópolis, até chegar à cidade mineira de Ouro Preto. Poderia ser um grupo de americanos interessados apenas nas praias e na arquitetura barroca do país. Engano. A viagem de moto dos nove amigos -- autobatizados de Zell's Angels, em referência ao lendário grupo de motociclistas da Califórnia -- aconteceu semanas antes de Zell concretizar uma série de aquisições que criaram a BR Malls, a maior empresa brasileira de shopping centers, controlada por ele e pelo fundo brasileiro de private equity GP. Em menos de dois anos, Zell, nome que é sinônimo de mercado imobiliário nos Estados Unidos, já investiu 300 milhões de dólares no Brasil. A BR Malls foi a última tacada de uma série iniciada em 2005, com investimento na construtora Gafisa. Um ano depois, Zell voltou à carga com a criação da Bracor, empresa de investimentos imobiliários. "O Brasil é um dos mercados com a melhor relação risco-retorno do mundo", disse Zell em entrevista a EXAME (leia mais na pág. 32). "Vejo espaço para ampliar meus investimentos no país e para mantê-los por um prazo longo."

Zell espera repetir no Brasil os resultados impressionantes conseguidos no México no começo desta década. Apenas com investimentos na construtora mexicana Homex, ele obteve lucro de mais de 1 000% em cinco anos. Seja no Brasil, no México, nos Estados Unidos, seja na China, Zell sempre mantém o mesmo padrão: a obsessão por ser o maior do mercado e por impor seu estilo pessoal a cada negociação comercial. "Sam Zell é único porque ele consegue antecipar tendências de mercado e só pensa em ganhar, em ser o melhor. Nunca o vi pensando em como se proteger para perder menos dinheiro", disse a EXAME Terry Diamond, sócio da gestora de fundos de hedge e de private equity Talon Management e parceiro comercial de Zell há 35 anos. "Essa ambição explica boa parte de seu sucesso." Dono de uma fortuna pessoal de 5 bilhões de dólares, cifra que o coloca na 158a posição do ranking dos mais ricos do mundo da revista americana Forbes, Zell ergueu, do zero, um império imobiliário que inclui 200 000 apartamentos nos Estados Unidos e dezenas de investimentos em países da América Latina, da Ásia e da Europa. No início deste ano, protagonizou o maior negócio do mercado imobiliário global. Vendeu uma de suas principais empresas, a Equity Office Properties, dona de 120 milhões de metros quadrados em prédios comerciais nos Estados Unidos, área quase quatro vezes superior à soma de todos os escritórios de Manhattan. O negócio com o fundo de capital de risco Blackstone foi fechado pela fábula de 39 bilhões de dólares, quantia similar ao valor de mercado do Yahoo!

Zell formou-se em direito na Universidade de Michigan e chegou a trabalhar num escritório de advocacia, mas o emprego não durou uma semana. Pediu demissão para dedicar-se em tempo integral a um negócio que havia começado nos intervalos das aulas na faculdade com um colega: o de comprar e reformar os degradados imóveis que ficavam próximos ao campus para alugá-los a estudantes. "Deu certo e decidimos continuar nesse setor", diz Zell. Não foi uma decisão trivial. Na década de 70, o mercado imobiliário americano passava por um período de recessão. Zell, no entanto, via na crise uma oportunidade de comprar bons ativos por um preço baixíssimo -- e realizar os lucros quando o cenário melhorasse. Foi assim que comprou dezenas, depois centenas e, por fim, milhares de imóveis residenciais e comerciais nos Estados Unidos. Parte dos ganhos era fruto da valorização dos imóveis gerada pelas reformas que ele fazia. Outra parte deveu-se ao aumento generalizado de preços ocorrido quando o mercado americano saiu da recessão.

Nenhum outro empresário americano seguiu a mesma estratégia na época -- ao menos não de forma tão agressiva. Por isso, quando o nicho explorado por Zell e seu sócio mostrou-se promissor, os dois praticamente dominaram os lucros do mercado. Em pouco mais de 15 anos, Zell já havia construído uma fortuna pessoal de 200 milhões de dólares, um feito impressionante, dado que ele partiu do zero. Em 1986, apareceu pela primeira vez entre os 400 americanos mais ricos no ranking elaborado pela revista Forbes. Quando os sinais de seu sucesso no mercado imobiliário ficaram evidentes, Zell decidiu diversificar seu portfólio. "Vi que a concorrência estava aumentando e resolvi experimentar outros negócios", declarou a EXAME. Não havia um setor específico sob sua mira. Ele investiu em empresas de energia e telecomunicações, seguradoras, estações de rádio e até no time de basquete Chicago Bulls e no de beisebol Chicago White Sox, ambos de sua cidade natal. Olhando a maioria desses investimentos de perto, porém, vê-se que há, sim, um ponto em comum entre eles: a determinação de Sam Zell de comprar ativos que considera subavaliados. No momento em que faz seus investimentos, no entanto, quase nunca recebe apoio unânime entre os analistas de mercado. Sua recente incursão no setor de mídia, por exemplo, foi cercada de controvérsia -- ele liderou a compra do controle do grupo Tribune, que publica os jornais Chicago Tribune e Los Angeles Times, por 13 bilhões de dólares, no início deste ano. Zell vê oportunidades de crescimento num setor considerado maduro pela maioria dos analistas de mercado. O tempo dirá se, mais uma vez, ele está com a razão.


Quem é Sam Zell
Conheça o bilionário americano que investe no mercado imobiliário brasileiro
Idade 65
Família Três filhos, casado, dois divórcios
Fortuna pessoal
5 bilhões de dólares
Formação
Direito na Universidade de Michigan
Como começou
Na faculdade,reformando moradias estudantis para alugar
Maior negócio
Vendeu uma de suas empr esas,a Equity Office,por 39 bilhões de dólares — recorde mundial para o setor
Investimentos no Brasil
Participações na Gafisa,na BR Malls e na Br acor
Negócios fora do setor imobiliário
Empresas de energia elétrica, telecomunicações,mídia,e stações de rádio e time s de beisebol e basquete, como o Chicago Bulls
Hobby
Seu clube de mot ociclistas,o Zell’s Angels

Esse estilo de fazer negócios rendeu a Zell uma coleção de apelidos, como "oportunista profissional" e -- o mais famoso -- gravedancer, algo como dançarino de túmulos. Ele próprio sempre fez questão de alimentar essa imagem. Gravedancer, por exemplo, foi o título de um artigo sobre o mercado imobiliário escrito por Zell no início dos anos 70. "Achei que o termo descrevia bem minha atividade", disse ele. Outra imagem que Zell cultivou com carinho foi a de empresário informal e descontraído. Nessa seara, seu guarda-roupa é seu cartão de visita. "Quando o vi pela primeira vez, ele usava uniforme de ginástica e corrente de ouro", diz James Harper, vice-presidente executivo do Continental Bank of Chicago. Zell também é famoso por enviar a amigos e empresários presentes de Natal pouco convencionais que manda confeccionar. Wilson Amaral, presidente da Gafisa, construtora que recebeu um aporte de 55 milhões de dólares de Zell, ganhou um desses no ano passado. Era uma caixa de metal feita com engrenagens complicadas e um texto bem-humorado que trazia críticas à burocracia gerada pelas exigências da lei societária americana Sarbanes-Oxley. "É interessante como ele consegue antecipar meses antes, quando começa a pensar nos presentes, quais temas serão importantes em dezembro", diz Amaral. "É algo simples, mas mostra sua perspicácia como homem de negócios."