domingo, 15 de julho de 2007

Colheitas sombrias...

Elias Mattar Assad



“Encontrou-se, em boa política, o segredo de mandar matar de fome aqueles que, cultivando a terra, fazem viver os demais...” (Voltaire)

Nossos irmãos do campo estão com problemas maiores que aqueles sentenciados por ocasião da “expulsão do paraíso” (“Do suor do teu rosto comerás o pão..”). Geralmente os telejornais são transmitidos nos horários de refeições. Quando assisto notícias mostrando movimentos agrícolas de protesto e olho a mesa posta, tenho a prova irrebatível da maior das injustiças e contradições que poderia se embrenhar a nossa civilização!


O ter e o manter a terra é apenas o problema inicial. Só podem sonhar em produzir algo aqueles que têm acesso a terra. Ter e não poder plantar por problemas de financiamento, preparo com implementos, insumos, sementes, mão de obra, entre outros... Plantar e ver frustrada ou não colher o esperado por fatores climáticos. Colher e não poder transportar a safra para os locais de escoamento... O pesadelo da não obtenção de preço que recompense minimamente os hercúleos esforços, para não transformar todo o suor em trabalho escravo ou pior, apenas acumular prejuízos com endividamento, são os desafios diários...


Não compreendo a leviandade de muitos em passar a ilharga dessa questão vital quando, contrariamente, em nossas casas a primeira coisa que fazemos é olhar a geladeira e armários para ver como estão as reservas de alimentos. Não pensamos, ilogicamente, naqueles que produzem, nem nas suas condições de vida... Aqueles homenzinhos e mulherzinhas de fala carregada, com seus tratorzinhos, caminhõezinhos, foicinhas, lenços, chapéus e botas (e tudo parece pequeno no quadradinho da televisão...), bloqueando estradas e portas de bancos, derramando leite, distribuindo produtos e bradando por melhorias na política agrária e agrícola, já não nos comovem... Bocejamos, trocamos de canal a procura de algo “melhor”, como os resultados de partidas de futebol, fixando atenções, hipnotizados, na nova propaganda de cerveja...


Essas calamidades artificiais, piores que o estalar dos açoites nos períodos escravocratas, devem ser urgentemente revertidas. Aquele que, em mínimas condições de qualidade de vida, acorda cedo todos os dias, fazendo da terra seu perpétuo culto em jornadas intermináveis de trabalho, interrompidas apenas para um rápido comer e dormir, por questão de solidariedade humana e de justiça, deveria ocupar o centro das atenções nacionais – a prioridade das prioridades! Um condenado sem crime... Quem planta, não pode colher tristezas...


Que esses gritos e vigílias cívicas tenham o condão de sensibilizar nossos dirigentes e aviventar rumos para um dia ressurgir, com todas as cores e reais significados, a tradição da “festa da colheita”. Hoje esses assuntos ligados a terra, conduzem a uma grande tarja preta entre o verde e o amarelo da nossa bandeira...


Por tais razões, como presidente do Comitê Organizador do “Encontro Brasileiro de Direitos Humanos” (direitoshumanos.adv.br), fiz convite ao Dom Tomás Balduino para que proferisse palestra magna. Ele, como bom missionário, aceitou e estará conosco cumprindo a sagrada ordem: “E saiu a semear o que semeia...”

(Elias Mattar Assad - Presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas - eliasmattarassad.com.br).

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